«Apesar de todas as tensões, o mundo tende para a unidade»
No contexto da Evolução e de Darwin, escrevi a frase acima que recebeu a seguinte crítica: «para um biólogo isto é um absurdo – a evolução tendeu e tende ainda para a diversidade».
Tomando como motivação de reflexão o facto de 2010 ser o Ano da Biodiversidade, o primeiro equívoco é tomar “unidade” por “uniformidade”. Só pode estar unido aquilo que é diferente, logo, unidade pressupõe “diversidade”. Aliás, esta não é uma ideia nova, por exemplo, no livro de referência Biology de Campbell e co-autores está escrito que de «tão diversa é a vida, essa exibe também uma unidade notável» (8ªed., 2008, p.14). Que tudo no mundo está relacionado com tudo é um princípio base onde assenta a teoria ecológica. Na visão Islâmica, o universo é governado e regulado por princípios de unidade, simetria, manifestando o princípio interactivo unificante tawhid (Saniotis, 2004). No Cristianismo, Deus é Trindade, pessoas-em-comunhão, tal que a pericorese (forma de estar um no outro numa intimidade radical) aponta para a unidade na diversidade (Edwards, 2004). Ou ainda quando olhamos para a sequência (apesar de incompleta) que Arthur Peacocke dá como exemplo da tendência evolutivo do cosmos: átomo – molécula – macromolécula – organelo celular – célula – organismo multicelular – ser vivo – população de organismos vivos – ecosistemas – biosfera (Peacocke, 1993). Haverá ainda dúvidas que o mundo tende para a unidade? Ou será tudo isto um absurdo?
D. Edwards (2004) “The diversity of life and the Trinity”, in Biosdiversity and Ecology: an interdisciplinary challenge, ATF Press, pp. 94-100.
A. Peacocke (1993) Theology for a scientific age: Being and Becoming – Natural Divine and Human, Fortress Press, p. 38.
A. Saniotis (2004) “Nature as an expression of Tawhid (Divine Unity): Islam and Ecology”, in Biosdiversity and Ecology: an interdisciplinary challenge, ATF Press, p. 102.