Muitos ateus são levados a um rebelião metafísica ao enquadrar a acção divina como aquela que nada faz perante uma criança que morreu de leucemia, ou num desastre natural, logo, um Deus que não sofre ou sente pelo sofrimento dos outros, só pode ser um Deus que não existe, ou que se deve negar a existência. Partilho abaixo um excerto do teólogo Jürgen Moltmann sobre esse Deus negado pelos ateus. Verificarão que os Cristãos negam também “esse” Deus. Porém, é precisamente a este Deus de Aristóteles que Antony Flew se converteu, um Deus de Filósofos. Por isso, não deixo de me questionar se o Deus que Nietzsche terá declarado morto, não será este também. Assim, Nietzsche terá declarado morto um Deus que não existe, colocando assim toda a sua reflexão sobre o assunto em vão? O que teria sido de Nietzsche se tivesse conhecido o Deus de Jesus Cristo? 

«Onde nos leva esta rebelião metafísica do ateísmo? (…)
Que tipo de pobre ser é esse Deus que não pode sofrer ou morrer? (…) Pois, aceitar a morte e escolhê-la para si mesmo é uma possibilidade humana e apenas uma possibilidade humana. “A experiência da morte é o extra e a vantagem que esse tem sobre toda a sabedoria divina [H.-G. Geyer]. O pico da rebelião metafísica contra o Deus que não pode morrer é, por isso, uma morte de livre-escolha, que é chamada de suicídio. O ateísmo é a possibilidade extrema de protesto porque é apenas isto que faz do homem o seu próprio deus, de modo a que os deuses se tornam dispensáveis. Mas, mesmo à parte desta posição extrema, que Dostoyevsky trabalhou insistentemente em Os Demónios, um Deus que não sofra é mais pobre que qualquer homem. Pois, um Deus que seja incapaz de sofrimento é um ser que não se pode envolver. Sofrer e injustiça não o afectam. E por ser de tal modo completamente insensível, ele não pode ser afectado ou abalado por nada. Não pode chorar, pois não tem lágrimas. Mas, aquele que não pode sofrer, também não pode amar. Logo, é também um ser sem amor. O Deus de Aristóteles não pode amar; só pode ser amado por todos os seres não-divinos em virtude da sua perfeição e beleza, e, deste modo, atraí-los a si. O “Motor inamovível” é um “Amado sem amor”. Se ele é o fundamento do amor (eros) de todas as coisas (causa sui), ele é o amado que está no amor em relação a si mesmo; um Narcissus num grau metafísico: Deus incurvatus in se.»

Jürgen Moltmann (1993) “The Crucified God”, Fortress Press, p. 222.